............................................................................
Adestrei-me com o vento e minha festa é a tempestade.



.............................................................................

05/01/2010

Retrato em Luar



Meus olhos ficam neste parque,

minhas mãos no musgo dos muros,

para o que um dia vier buscar-me,

entre pensamentos futuros.


Não quero pronunciar teu nome,

que a voz é o apelido do vento,

e os graus da esfera me consomem

toda, no mais simples momento


.São mais duráveis a hera, as malvas,

que a minha face deste instante.

mas posso deixá-la em palavras,

gravada num tempo constante.


Nunca tive os olhos tão claros

e o sorriso em tanta loucura.

Sinto-me toda igual às arvores:

solitária, perfeita e pura.


Aqui estão meus olhos nas flores,

meus braços ao longo dos ramos:

e, no vago rumor das fontes,

uma voz de amor que sonhamos.


Cecília Meireles


.

Nenhum comentário:

Postar um comentário